Alterei o Onláine para evitar mal-entendidos...

domingo, 22 de fevereiro de 2009

Ilu Obá de Min 2009. Homenagem justíssima a Raquel Trindade, a Kambinda


Impressões de meu desfile com o Ilu Obá de Min

Agô, meu pai! Kawô kabiecile!
Depois de acompanhar o desfile do grupo de afoxé Ilu Obá de Min por 4 anos, contribuindo com a harmonia, pude, finalmente, desfilar como parte integrante de sua corte, dançando as coreografias criadas com base nas danças ritualísticas do Candomblé e paramentado em consonância com a tradição das vestimentas ancestrais.
O desfile desse bloco, e qualquer um que tenha visto há de concordar, é imensamente emocionante. É grandioso, o evento. Aquelas mulheres formando uma bateria maciça e encorpada, com seus naipes absolutamente bem definidos, de alfaias a agogôs, conduzidas pelas mãos firmes e macias de suas mestras; as cantoras, cada vez mais intensas e verdadeiras; a corte, da qual fiz parte, com vestimentas simplesmente deslumbrantes e movimentos belíssimos; os artistas convidados em suas pernas-de-pau, representando os Orixás em toda sua grandiosidade; e as grã-mestras, Adriana Aragão e Beth Belisário, conduzindo toda a festa com a segurança e a seriedade que as credenciam a tornar possível esse acontecimento já tradicional no carnaval paulistano.
Não poderia deixar de citar, também, todo o suporte e sustentação de nossa Yalorixá Mãe Dida de Xangô, Zeladora da Casa Abaçá de Xangô e toda a equipe da casa.
Para quem, distraidamente se engana e pensa que são pessoas se divertindo, brincando de carnaval, faço questão de frisar que todos os envolvidos têm plena consciência de que formamos um único corpo, com uma missão muito bem definida: manter viva a tradição e cultura de nossos ancestrais africanos.
E essa responsabilidade pesa!
Para alguns, a vivência plena do sagrado. Para outros, a transcendência. Para alguns outros, uma realização artística impagável. Eu, pessoalmente diria que vai muito mais além...
Como definir a experiência de emprestar seus talentos e seu corpo para que o sagrado se manifeste em escala suprarreal? Abro mão de tentar denominar ou me fazer compreender. Fiquemos com minhas impressões.
Passados dois dias da grande noite, tenho maior clareza do que essa experiência significa em minha trajetória artística. Sendo músico há vinte anos, tendo me apresentado pra grandes públicos em várias oportunidades (creio que o ápice tenha sido o Comício da Vitória, do Lula, em 2002, pra um público estimado em 150 mil pessoas), seria de se esperar que aquele famoso frio na barriga não tivesse mais lugar nem fizesse sentido. Ledo engano. Tudo, frio na barriga, na espinha, dores, vontade de chorar... Desfilei por cerca de duas horas com um estiramento muscular na perna esquerda (sou ambidestro), concentrado para não deixar a dor me abater e extremamente feliz por meu pai ter me concedido a honra de representá-lo.
Passadas algumas horas do encerramento do desfile, o transe permanecia. Em algumas fotos, o apego visível à postura corporal que me dava sustentação. Aos poucos, o sorriso, a descontração, o alívio, o relaxamento merecido e, finalmente, o êxtase.
Ah, a festa! Enquanto todos brindavam felizes eu brindava, mais que feliz, agradecido.
Não brinquei carnaval em 2009, eu, com todas(os) companheiras(os) de bloco, contribuí para o engrandecimento da cultura desse país que tanto amo. A soma de numerosas pequenas doações para uma grande realização. 2010 tem mais. Axé!

segunda-feira, 9 de fevereiro de 2009

Capacitação

Capacitação

Bem, falando mais rasteiramente, eu diria que o conceito de capacitação, quando aplicado a seres humanos soa meio dissonante, não sei.
Mas, supondo que o treinamento de pessoas para exercer certas atividades mereça este nome, capacitação, como aliar esse conceito ao exercício da arte?
Estamos falando da "capacitação" dos "excluídos" ou dos adestradores/professores?
Se nos referimos aos professores, eu diria que a preocupação é bem válida, (na teoria, pelo menos) pois é comum vê-los atendendo aos jovens, como quem faz caridade. Super envolvidos. Absortos em sua tarefa judaico-cristã de fazer o "bem" ao próximo. Não enxergando ali, a perpetuação dessa exclusão. Não repensando suas metodologias; ignorando a herança cultural desses jovens; impondo-lhes sua cultura e seus gostos pessoais como se ETs chegassem na terra e afirmassem que não sabemos nada e que "Música" de verdade é aquilo de que eles gostam!
Pior ainda, se aplicarmos o termo capacitação para o ensino de arte aos jovens em situação de "risco social", pois aí temos uma falácia absolutamente gritante:
O convívio com a diversidade musical, o acesso a instrumentos musicais diversos, o mínimo contato com a linguagem musical tem como finalidade oferecer uma profissão a esses jovens?
Seria como se professores de literatura do ensino regular instigassem seus alunos a pretender serem todos, escritores em busca de um "Best Seller"...
Acredito que o acesso à linguagem musical seja um direito de todo ser humano. Identificar as notas musicais não deveria ser diferente de saber o nome das cores. Usufruir do imenso patrimônio cultural da humanidade, deixado como herança pelos grandes de todos os tempos, é um direito inalienável. Faz de cada ser humano, um ser humano mais humano. Essa deveria ser a finalidade de quem ensina música.