Monahyr Campos Online

Alterei o Onláine para evitar mal-entendidos...

segunda-feira, 24 de fevereiro de 2014

Histórico das manifestações III - 2013



Segundo relatos da imprensa, os confrontos com a polícia naquele dia teriam sido iniciados pela própria corporação. Um vídeo divulgado naquela mesma noite mostra um policial danificando uma viatura da própria polícia.  O colunista da Folha de S. Paulo Elio Gaspari disse que "seguramente a PM queria impedir que a passeata chegasse à avenida Paulista" e que os confrontos entre os manifestantes e os policiais "foi um cena típica de um conflito de canibais com os antropófagos".
Constatou-se também que a polícia usou bombas de gás lacrimogêneo com a data de validade vencida, embora, em nota, ela tenha afirmado que isto não ofereceria risco à saúde das pessoas.
Fotógrafo foge de bombas de gás lacrimogênio lançadas pela Polícia Militar de São Paulo durante os protestos em São Paulo, em 7 de junho.
No Rio de Janeiro, houve críticas à atuação policial nos protestos do dia 17 de junho, quando um grupo de manifestantes depredou o prédio da Assembléia Legislativa do Estado do Rio de Janeiro (ALERJ). Os policiais que faziam a proteção do prédio tiveram que se refugiar dentro do local, e só puderam sair três horas depois, com a chegada do Batalhão de Choque. Para dois coronéis da PM, ouvidos pelo jornal Estadão, sob condição de anonimato, a demora na atuação foi devido à critérios políticos. O porta-voz da Polícia Militar do Rio negou a acusação, afirmando que a decisão foi técnica, alegando que a ordem era de enfrentar os protestos sem violência, e que a suposta demora se deu porque a organização não esperava tamanho número de manifestantes. Ao dispersar a aglomeração na região, alguns policiais foram flagrados atirando para o alto com fuzis e pistolas. Segundo o porta-voz da Polícia, "a corporação vai fazer um 'estudo de caso' " para apurar o ocorrido.
O vereador Ricardo Young, que acompanhou o indiciamento de alguns manifestantes detidos, informou no Facebook[quando?] que policiais[onde?] estavam fazendo revistas em bolsas e mochilas longe de testemunhas, e plantando provas nelas. Assessores do vereador também denunciaram[quando?] isto.
O uso de policiais infiltrados nos protestos no Rio também causou polêmica. Nas mídias sociais, internautas compartilharam vídeos onde supostos policiais à paisana estariam atacando outros policiais fardados com bombas de fabricação caseira, de modo a incitar a violência nas manifestações. A Polícia Militar do Estado do Rio de Janeiro confirmou o uso de agentes do serviço reservado para o acompanhamento das manifestações, negando, no entanto, as acusações de violência por parte dos mesmos, afirmando que a denúncia "ultrapassa os limites do bom senso". Segundo perito forense contactado pelo jornal O Globo, não seria possível confirmar a veracidade das acusações, tendo como base os vídeos publicados. Já para o assessor de direitos humanos da Anistia Internacional, haveriam indícios da ação de policiais a paisana com o objetivo de desestabilizar as manifestações. O governador do estado, Sérgio Cabral, disse que não sabia da existência de policiais infiltrados, pois seriam detalhes técnicos que ficariam a cargo do secretário de segurança, José Mariano Beltrame. Anteriormente, dois manifestantes já haviam sido presos, por, dentre outras acusações, divulgar imagens de supostos policiais infiltrados, o que seria proibido.
Em Porto Alegre a Câmara de Vereadores, através da Comissão de Direitos Humanos, convocou reunião para ouvir os relatos de abuso policial, especialmente referentes ao dia 17 de junho. Jovens e adolescentes depuseram sobre detenções arbitrárias, incluindo uso de armas de eletrochoque, tortura física e psicológica. Alguns manifestantes foram encaminhados ao Presídio Central de Porto Alegre
No dia 13 de junho de 2013, agentes da Polícia Militar do Estado de São Paulo, atuando contra manifestações populares do Movimento Passe Livre, prenderam mais de 60 manifestantes por estarem portando vinagre,. O vinagre seria utilizado como meio de proteção ao gás lacrimogêneo e spray de pimenta179 nas movimentações que ocorreriam mais tarde naquele dia, que partiu do Theatro Municipal com destino à Avenida Paulista. O jornalista Piero Locatelli da revista Carta Capital chegou a ser detido e levado para a Polícia Civil por carregar uma garrafa de vinagre.
A ação dos policiais foi posteriormente motivo de sátira nas redes sociais. O tom irônico também vem sendo empregado para nomear o quinto ato, apelidado de "Marcha pela Legalização do Vinagre". . No dia 16 de junho, o secretário de Segurança Pública de São Paulo, Fernando Grella Vieira, declarou após os incidentes que "ninguém vai ser detido por estar levando vinagre". Policiais e agentes da ABIN tambem estavam infiltrados nos protestos para cometerem vandalismo.
Desde julho, vários protestos têm sido realizados no país, mas com um número bem menor de manifestantes. Anarquistas aproveitaram as manifestações de junho para colocar em prática a tática conhecida como black bloc, que consiste em atacar e depredar símbolos do poder e do capitalismo.338 Tem esse nome porque, nas manifestações, os anarquistas, vestidos com roupas e máscaras pretas, formam um bloco de pessoas que se coloca entre a polícia e o restante dos manifestantes. A estratégia ganhou notoriedade durante as manifestações contra o encontro da OMC em Seattle em 1999. Segundo Marcia Cavallari, diretora do IBOPE Inteligência, o foco dos protestos "se perdeu quando começou as ações dos black blocs e isso fez com que a grande maioria das pessoas, as que querem se manifestar por causas legítimas, se inibisse". O jornalista Kennedy Alencar notou a baixa presença de manifestantes nos protestos marcados para 7 de Setembro de 2013, apontando como causas para isso a falta de pautas específicas após a queda das tarifas do transporte coletivo...
Fontes: http://pt.wikipedia.org/wiki/Manifesta%C3%A7%C3%B5es_no_Brasil_em_2013
Minha memória...

Histórico das manifestações II - 2013



No dia 12 de junho, quase a totalidade dos 55 vereadores eleitos da Câmara Municipal de São Paulo repudiaram os protestos em discurso, denominando os participantes de "criminosos", "marginais" e "delinquentes". O líder de governo na Câmara, Arselino Tatto, afirmou que dentre os manifestantes, haveria "infiltrados" na passeata com a intenção de desestabilizar o governo municipal. Durante a sessão, o único legislador a se pronunciar a favor dos protestos foi o vereador Toninho Vespoli, que foi também objeto de críticas dos seus colegas pela participação nas manifestações.
O blogueiro (sic) Reinaldo Azevedo criticou duramente os manifestantes em seu blog, chamando-os de "terroristas", "baderneiros" e "ligando" os protestos ao Partido dos Trabalhadores.
O senador Aloysio Nunes também se referiu aos manifestantes como "baderneiros" e defendeu a ação enérgica da polícia, além de ter criticado o prefeito Fernando Haddad por reconhecer abusos por parte da polícia antes de qualquer investigação sobre o caso. Em resposta, o Movimento Passe Livre declarou que os atos de vandalismo foi introduzido pela polícia militar.
A partir do dia 17 de junho, passaram a ocorrer manifestações de repúdio à presença de bandeiras de partidos políticos nas manifestações. Os que portavam bandeiras, por outro lado, qualificaram a intolerância às bandeiras partidárias como fascismo.
Para o cientista político Fábio Wanderley Reis, existe neste movimentos uma propensão "anti-institucional" e "antipolítica".
Muitos defendem a presença de partidos em manifestações e criticam o teor anti-partidário existente.[carece de fontes] No entanto, ainda não está claro se o movimento seria majoritariamente apartidário ou anti-partidário.[carece de fontes] Alguns analistas a mando do governo federal levantaram um boato de que essa mobilização social poderia ser tomada por grupos anti-democráticos e fascistas, com o objetivo de sufocar o seu alcance popular. Por outro lado, há também analistas que explicam que apartidarismo não seria um posicionamento próximo do fascismo.[carece de fontes] Apesar da presença de grupos fascistas nas manifestações, a grande maioria das pessoas não possuía um posicionamento político claro.
Nas palavras de um comentarista, “feministas, negros, gays, lésbicas, sem-teto sempre denunciaram a violação de seus direitos pelos mesmos fascistas que, agora, tentam puxar a multidão para o seu lado”. No entanto, a disputa para a absorção dessa massa insatisfeita já começou e não se sabe se essa massa será facilmente manobrável em direção a determinada ideologia ou se a mesma reivindicará por mudanças fora do espectro partidário. Mas está claro que há um déficit de democracia participativa que vai ter que ser resolvido.
* A ação policial a fim de conter os manifestantes recebeu duras críticas, especialmente após os protestos do dia 13 de junho. A organização não governamental (ONG) Anistia Internacional publicou uma nota onde critica a violenta resposta policial às manifestações populares, dizendo que "vê com preocupação o aumento da violência na repressão aos protestos contra o aumento das passagens de ônibus no Rio de Janeiro e em São Paulo" e que "também é preocupante o discurso das autoridades sinalizando uma radicalização da repressão e a prisão de jornalistas e manifestantes".
Outra ONG, a Repórteres Sem Fronteiras (RSF), divulgou uma nota condenando a repressão aos protestos e a prisão de jornalistas e manifestantes. Benoît Hervieu, representante regional da RSF, afirmou que "a Constituição brasileira está sendo desrespeitada" e que "além da brutalidade dos policiais, as acusações contra os jornalistas não têm fundamento." Ex-comandantes da Polícia Militar consultados pelo jornal O Estado de S. Paulo também apontaram falhas na coordenação, planejamento e execução da operação.
De acordo com o Movimento Passe Livre (MPL), houve cerca de cem feridos no centro da cidade, dentre quais sete jornalistas do jornal Folha de S. Paulo; dois deles atingidos por tiros de bala de borracha na cabeça. Um fotógrafo d'O Estado de S.Paulo acusou um policial de atropelá-lo de propósito com sua viatura no momento em que registrava o momento em que um outro carro da polícia passava por cima de uma barricada em chamas montada pelos manifestantes. Um fotógrafo da Futura Press foi atingido no rosto por uma bala de borracha e corre o risco de perder a visão no olho ferido. No meio do trajeto do quarto protesto, os manifestantes, que agiam de forma pacífica, foram recebidos com truculência pela tropa de choque da PMESP, que iniciou o confronto em diversos pontos com o objetivo de dispersar o movimento. O grupo, em nota, afirmou que entraria com uma representação na Justiça contra a Polícia Militar após a ação do dia 13.[carece de fontes] O prefeito da cidade, Fernando Haddad, reconheceu que o protesto do dia 13 de junho foi marcado pela violência policial e o secretário de Segurança Pública de São Paulo pede investigação sobre possíveis abusos da polícia militar.

Histórico das manifestações - 2013



Desde o começo do mês de junho (2013) ocorrem protestos periódicos na cidade de São Paulo.

Na manhã de 7 de junho, um protesto foi realizado na Estrada do M'Boi Mirim, na Zona Sul de São Paulo, bloqueando uma das faixas no sentido Centro, que seguiu para a avenida Guarapiranga. Na ocasião, a polícia tentou conter o ato.  Ainda nos primeiros dias do mês, protestos também foram realizados pelo Movimento Passe Livre em Pirituba, na Zona Norte, e no Parque Dom Pedro II, no Centro.85 Em 13 de junho, mais de cinco mil pessoas se reuniram em pontos, como a Avenida Paulista, para se manifestar contra o aumento das passagens do transporte público municipal. Nesse dia, mais de duzentas pessoas foram presas.
Manifestantes de outras seis capitais brasileiras, como Rio de Janeiro, Maceió, Porto Alegre e Goiânia, também começaram a realizar atos públicos pelos mesmos motivos dos realizados em São Paulo, tomando o aumento da passagem do transporte público como estopim para protestar contra o governo e outros problemas sociais.
No dia 17 de junho, as manifestações se intensificaram em grandes cidades do Brasil.
Em São Paulo, (por exemplo) manifestantes se concentraram no Largo da Batata, ocuparam a Marginal Pinheiros, a ponte Octavio Frias de Oliveira e as avenidas Paulista, Faria Lima e Luís Carlos Berrini, e foram para o Palácio dos Bandeirantes, onde algumas pessoas tentaram invadir o edifício. Muitos cantavam o hino nacional combinado com o hino "O povo acordou!"103 e alguns deles carregavam flores brancas. Houve interrupção no trânsito nas avenidas Paulista, Rebouças e Doutor Arnaldo.
No dia 18 de junho*Um vídeo intitulado "Anonymous Brasil - As 5 causas!" de autoria do coletivo Anonymous, é lançado na internet em resposta a mídia que frequentemente anunciava a falta de reivindicações claras durante os protestos, e sugere 5 motivos consensuais pelos quais as pessoas estariam se manifestando, pedindo a colaboração e adesão a estas causas como foco nos próximos protestos. Sendo elas a rejeição ao PEC 37; a renúncia de Renan Calheiros da presidência do Senado; investigações e punição de irregularidades nas obras da Copa do Mundo a ser realizada no país; lei que torne corrupção crime hediondo e o fim do foro privilegiado.

Obs minha: curiosamente, o Arnaldo Jabor em sua crônica para O Globo defende os mesmos tópicos. Tendo a crônica replicada em todos os canais de TV e nas emissoras de rádio do conglomerado Globo...
Obs minha II: Nem o Jabor nem o Anonymous (sic) em nenhum momento citou projetos como a PEC do Trabalho Escravo e outras pautas realmente de interesse do povo brasileiro...

No dia 20 de junho - Em Brasília, cerca de 35 mil pessoas ocuparam a Esplanada dos Ministérios
Obs minha III(com transmissão ao vivo e apoio geral e irrestrito da população aos manifestantes)

No dia 22 de junho foi feito o primeiro protesto contra a PEC 37. Em São Paulo teve inicio no vão livre do MASP e após percorrer vários pontos de São Paulo foi finalizada na Praça da Sé.
Obs minha IV [o Jabor e o Anonymous (rs) estavam ditando a pauta das manifestações]

No dia 29 de junho - Na câmara municipal de Belo Horizonte foi votada a PL 317 que reduziria a passagem em 10 centavos e isentaria a BHTRANS de 2% do ISS que geraria 8 milhões a mais para a BHTRANS que fatura 1,2 bilhão de reais ao ano. Uma proposta pedia a redução em 20 centavos e a outra que abriria as contas de faturamento da BHTRANS. Ambas foram vetadas e os manifestantes não foram autorizados a entrar, e então começou a ocupação da câmara até o dia seguinte.

No dia 11 de julho foi realizado o "Dia Nacional de Luta" por centrais sindicais, centenas de organizações de trabalhadores, movimentos sociais e partidos de esquerda, marcando a entrada organizada dos trabalhadores nos protestos. Esta foi a quarta greve geral do país desde a Independência há 190 anos.

Entre as pautas dos trabalhadores estava o marco regulatório dos meios de comunicação, que levou a um ato próprio em frente à sede da Rede Globo em São Paulo,135 136 137 137 Nessa manifestação um laser verde apontado para as janelas da emissora, mirado na cara do repórter Carlos Tramontina, que apresentava ao vivo o SPTV, obrigou-o a mencionar os protestos feitos do lado de fora.137 As denúncias de espionagem na internet por agências estadunidenses fizeram o Marco Civil da Internet (PL 2.126/2011) ser uma reivindicação também.137 De acordo com um dos defensores da PL, a Globo inseriu um trecho no texto que deveria ser removido, mas o resto todo deveria ser aprovado.
Obs. minha V - aqui começa o problema: Trabalhadores tentaram ditar a pauta!!! Aqui a popupalação já está irracionalmente contra os manifestantes e as manifestaçãoes. O discurso predominante era: "sou a favor de manifestação pacífica (afrimação quase etérea de quem sempre tinha sido contra!)

terça-feira, 8 de janeiro de 2013

Dói mas aumenta a imunidade!
Olha, moça,
quando vc foi viajar, devia ter trancado o portão.
Apagar a luz num resolve
tem gente que prefere o escuro!
Veio bêbado abrir o portão,
veio político, artista
cada cachorro mijando pra demarcar território!
Na sua volta a grama tava alta
e cheia de coisas indesejáveis!
Fui falar com uma vizinha, pedir umas dicas:
sabe o que ela disse?
Senta! Toma um café.
E foi assim que vc me perdeu...

Meu coração, meu pensamento ainda tá em você.
Só meu corpo tá na vizinha.
Mas a grama continua alta
toda vez que te visito piso em caco de vidro
já tomei cada escorregão...
Sabe aquele escorpião que vc pôs de propósito
só pra se divertir, espantar o tédio?
Atingiu em cheio o coração, enrijeceu tudo!
Dói mas aumenta a imunidade!

Agora só quero limpar essa sujeira
retirar o lixo, os bixos
esse é o meu quintal!
Você viajou, lembra? Foi rodar...
Depois de arrumar a casa vou fazer uns poemas
pra resolver essa escuridão!
Desejo de forma sincera e verdadeira que tenhamos todos um ano de 2013 com a benção daquilo em que acreditarmos como sagrado. Que nossos sonhos e projetos se realizem. Que nossas dores amainem. Que nossas alegrias e felicidades contagiem aqueles de quem gostamos. Enfim, que o amor adoce nossos corações.

Amo ter amigos em quem confiar, para ouvir e ser ouvido, atentamente e de verdade, para apoiar e dar broncas.

Se você entrou em minha vida em 2012, ou se já faz parte dela há anos, saiba que, terá sempre o melhor de mim. E prezo sempre para que o melhor de mim, melhore sempre com o tempo.

Àquel@s que amo: meu filho, minhas afilhadas, meus amigos-irmãos de jornada - obrigado por cada momento bom e ruim. Àqueles com quem me desentendi e que foram grandes o suficiente pra entender minhas fraquezas e para perceber que eu jamais faria algo se imaginasse que poderia ferir algum de vocês, obrigado.

Obrigado a meu irmãos de religião, pelo apoio e pelos ensinamentos. Pela confiança nos momentos de aprendizado e pelo axé, pela luz.

Amo minha vida e a generosidade com que o destino tem me tratado!!!

sexta-feira, 28 de setembro de 2012

Sobre a crítica

Nos tempos da ditadura, ser crítico era algo ruim. Não é difícil lembrar uma época em que as pessoas falavam: - Nossa! Fulano de Tal é muito crítico! E qualquer um entendia que o tal Fulano de Tal era um chato. Nos meios acadêmicos, nesse período tosco de nossa história, ser crítico era exercer aquilo que “não pode ser nomeado". Nos meios teatral e literário, crítico sempre foi visto como um artista incompetente: - Quero ver se ele faria melhor! Humpft! E, se o crítico fosse também um artista competente, o veneno escorria pelo outro lado da boca: Isso é Rancor!!!
Pois bem, não estamos mais numa ditadura. Nunca estivemos numa ‘ditabranda’ como tentaram nos fazer engolir. Agora as pessoas podem criticar à vontade. E criticam.
Criticam quando o “governo” aumenta o preço, criticam quando abaixa o imposto, criticam quando muda-se uma lei. Hoje, qualquer “post” que contenha palavras mágicas como corrupção ou absurdo ganham milhares de compartilhamentos e repasses. Geralmente as pessoas não leem. Ou melhor, leem o primeiro parágrafo. Se fizer minimamente sentido, lá vai o texto para o ecrã dos amiguinhos todos. Não podemos ser injustos e achar que ninguém lê os textos do começo ao fim: existe uma meia dúzia que tenta. Alguns até conseguem. Leem tudo! E se maravilham se o texto tem um começo, um meio e um final razoáveis.
Acham que ler é juntar palavras e encontrar referenciais pra elas no mundo real. E só!
Não se fazem perguntas. Não questionam as intenções de quem compôs o texto. Com frequência esquecem que se trata de um texto: acham que é a mais pura verdade!!! Querem exemplos, não é? Que tal lembrarmos uma época em que as pessoas culpavam o presidente da república pela queda de um avião? Tentem lembrar-se dos textos dos “críticos” de plantão. E eram textos bem escritos: tinham começo, meio e fins. Tinham um final e inúmeros fins lucrativos.

As pessoas também costumam criticar as empresas estatais. Ok, elas merecem ser criticadas. Mas as pessoas alegam que o governo é corrupto, logo uma empresa particular é mais eficiente. Não é um pensamento genial? Um exemplo magistral é o da Vale do Rio Doce , vendida por 3,3 bilhões e com lucro líquido, NO ANO DA VENDA, de 12, 5 bilhões. O governo que realizou esse negócio é corrupto? E os empresários que a adquiriram, não? As pessoas só esquecem que, para haver corrupção é necessário que haja corruptores. E eles estão nas empresas privadas.
Vindo para os momentos atuais a situação piora. Criticam o governo por estimular o endividamento da população. Como? Abaixando os impostos! Criticaram recentemente o governo por abaixar o preço da energia elétrica! Motivo? Por que não abaixaram antes? Deveriam perguntar por que subiu? Quando subiu?
Essas pessoas chamam de baderneiros os estudantes que se manifestam, sem questionarem detalhes. Criticam grevistas que atrapalham o trânsito, mesmo se forem professores lutando por uma educação mais digna para os próprios filhos dos críticos. Acreditam no que aparece na frente, quando escrito em conformidade com o pensamento dominante... (continua)

domingo, 3 de junho de 2012

Diálogo do verossímil improvável


- Você sempre teve o sonho de voar de Asa Delta, certo?

- SIM!!!

- Vamos realizá-lo semana que vem!

- Legal. E quando vamos mergulhar?

@->-`-

Por Monahyr Campos

sexta-feira, 3 de fevereiro de 2012

VESTIDA DE ROSA, CONFETE E SERPENTINA

VESTIDA DE ROSA, CONFETE E SERPENTINA

SESC Anchieta

Dia(s) 20/02
Sábado, às 11h00.

Inspirado no conto ´Restos de Carnaval', de Clarice Lispector, e em músicas de Chiquinha Gonzaga, considerada a primeira compositora de música popular para o carnaval brasileiro, o grupo criou uma apresentação em que dois atores-músicos desenvolvem a história utilizando-se de objetos comuns, bonecos e instrumentos musicais, animando-os. Com o Grupo Guardiões do Sonho. Auditório.

Com: Raquel Araújo e Monahyr Campos
LIVRE
http://www.sescsp.org.br/sesc/programa_new/mostra_detalhe.cfm?programacao_id=213273

Grátis

quarta-feira, 2 de março de 2011

VESTIDA DE ROSA, CONFETE E SERPENTINA

VESTIDA DE ROSA, CONFETE E SERPENTINA

SESC Santos

Dia(s) 05/03
Sábado, às 17h30.

Inspirado no conto ´Restos de Carnaval', de Clarice Lispector, e em músicas de Chiquinha Gonzaga, considerada a primeira compositora de música popular para o carnaval brasileiro, o grupo criou uma apresentação em que dois atores-músicos desenvolvem a história utilizando-se de objetos comuns, bonecos e instrumentos musicais, animando-os. Com o Grupo Guardiões do Sonho. Auditório.

Com: Raquel Araújo e Monahyr Campos
LIVRE

Grátis

segunda-feira, 21 de fevereiro de 2011

Saída do Bloco Afro Ilú Obá De Min - Carnaval 2011

Ilu Obá canta "As Candaces - as rainhas mães"
Dia 04 de março de 2011 - início do desfile 21h00

Concentração a partir das 19h
Participação DJ Evelyn , MC Paula Pretta e Theo Werneck

Viaduto Major Quedinho S/N – Bela Vista – SP

Maiores Informações:
www.iluobademin.com.br
iluobademin@yahoo.com.br

quinta-feira, 17 de fevereiro de 2011

Glosando o mote

--------------"(...)não haverá borboletas se a vida não passar
por longas e silenciosas metamorfoses."
Rubem Alves
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As metamorfoses longas e silenciosas são raras.
E como tudo ou quase tudo o que é raro é melhor, elas são as melhores.
O que me incomoda são as metamorfoses barulhentas.
Por isso trabalho com música: para metamorfosear os silêncios.
Monahyr Campos

domingo, 13 de fevereiro de 2011

Agora o inimigo não é nada mais que variações sobre o mesmo tema

Agora o inimigo não é nada mais que variações sobre o mesmo tema

Tropa de Elite II - Agora o inimigo não é nada mais que variações sobre o mesmo tema. A meu ver, esse seria um excelente subtítulo para o longa que acabo de assistir.
Perplexo começo a ver diante de mim um desfile de lugares comuns absolutamente obsoletos com aspecto de novidade. E olha que não sou de assitir a filmes hollywoodianos.
Só que o roteiro não tem nada de original: quantos filmens estadunidenses exploram a relação sempre produtiva entre a bandidagem e os políticos corruptos? Com a diferença que, esses filmes endeusam um personagem principal que mata todo mundo pessoalmente e nunca se questiona, enquanto que, no caso de Tropa de Elite, o herói é um pouco mais complexo.

Alguém diria que se trata de um filme ruim? Eu não! É um excelente filme! Ótimo elenco e ótima trama. Cinematograficamente uma realização memorável. Trilha e sonoplastia impécáveis. Edição e fotografia idem. Quanto ao argumento (como critério de avaliação), diria que o roteiro fala de coronéis da polícia militar e, ninguém chega a ser coronel se for burro. O filme perde um pouco em verossimilhança nesse aspecto. Mas isso também não é relevante.

O que me deixou estupefato é a manutenção da defesa aos argumentos mais fascistas das ações mais fascistas das polícias mais fascistas. Critica-se acertadamente a polícia corrupta. A polícia assassina e fascista continua podendo absolutamente tudo, desde que seja 'honesta'. Chega a ser nojento.

O inimigo do personagem Nascimento é o sistema? Qual sistema? Não lembro de ter visto durante todo o longa-metragem uma palavra que seja acerca do sistema que transforma defensores da lei em assassinos e torturadores. Em qual trecho do filme ele questionou o sistema que corrompe os policiais ou a tia que aluga sua sala para milicianos? Ou será que eles já nasceram ruins?

Tive o enorme prazer de assistir novamente, ontem ao filme Avatar. Esse sim, questiona o sistema o tempo todo. Envolvido em uma aura de poesia como não visto há anos, no cinema mundial, principalmente, no cinema destinado a grandes bilheterias. E talvez por isso, tenha sido apontado como "previsível".

O roteiro de Tropa de Elite II - Agora o inimigo é outro - pode não ser previsível, mas suas falas são! E seus objetivos também. Adular os críticos que taxaram apropriadamente a primeira parte da trama de fascista. A meu ver, não conseguiu. Essa segunda parte é tão fascista quanto a primeira, afinal, mudaram o inimigo, mas mantiveram os métodos e o ponto de vista.

A impressão que fica é que o diretor "José Padilha" crê abertamente que não é o responsável pelas palavras que saem da boca de seus personagens. Ou tenta passar essa idéia.

Esse filme preparou terreno para as invasões nos 'morros' cariocas. Alicerçou a base de apoio popular para que as polícias pudessem praticar quaisquer perversidades em nome da manutenção da ORDEM e da PAZ. Intencionalmente, ou não, mais uma vez a vida "imita" a arte.

Vou finalizar com um exemplo: No começo do filme ouve-se a famosíssima frase "Bandido bom é bandido morto" antecedida da afirmação de que essa representa a opinião do povo. Quem quer que tenha convivido com policiais em qualquer parte do Brasil, sabe que esse é o lema das nossas polícias!!! Nenhum policial brasileiro acorda de manhã e vai trabalhar com a intenção de prender bandido. Eles saem para matar. (Já vemos aí uma inversão de valores. Mas piora). O povo mostrado, defendendo essa opinião, é, nada mais nada menos do que um bando de grã-finos, em um restaurante de luxo, onde almoçam políticos e empresários. Essa parcela da população realmente 'pensa assim'. Só não creio que alguém possa considerá-la povo.

Monahyr Yehan Ododô Campos

sábado, 1 de maio de 2010

Tendências da educação.

Dia desses recebi um emeio com o título: Tendências da educação. Esse emeio falava de como a educação tem decaído nos últimos anos no Brasil.

Orgulhosamente o texto contava como uma caixa de supermercados tinha dificuldades para realizar uma operação de matemática simples e a cliente, do alto de sua sapiência, refletia sobre a situação e lamentava o fato de que, “antigamente” as crianças tinham aulas de educação moral e cívica, caligrafia etc.

Não bastasse o autor do emeio - anônimo, como todo emeio desprezível - tecer reflexões profundíssimas sobre um tema que não conhece, (apesar de se apoiar numa autoridade de professora de matemática) ainda tira reflexões preconceituosas sobre as políticas afirmativas para a área da educação.

Costumo dizer que sou especialista em terra de ninguém. Tenho uma fortíssima inclinação por asssuntos que todos conhecem "a fundo". Exemplo? Trabalho com música há 20 anos e aguento pessoas que não sabem a diferença entre ritmo e estilo musical dizendo que Chico Buarque canta desafinado. Mesmo depois de 50 anos da canção genial de Newton Mendonça.

Lecionando português me deparo com alunos dizendo que não sabem nada de português - EM PORTUGUÊS! Isso porque alguém ganha bastante dinheiro convencendo as pessoas que "o português é o idioma mais difícil!"

E na área de educação, então? As pessoas leem textos de autoajuda compostos por Fernando Pessoa e acreditam. E repassam para colegas professores "para que estes reflitam sobre a péssima situação da educação em nosso país". Mas o que isso tem a ver com o problema da caixa do supermercado? Talvez pouco, se levarmos em conta que realmente a educação no Brasil tem mudado. Em muitos pontos, tem piorado. Em outros, melhorado, e muito.

A diferença é que, o que para alguns é piora, para outros é sinal de evolução!

Hoje, os educadores não são mais senhores da verdade. Debate-se temas polêmicos. Ensina-se, ou acredita-se que os educadores sérios se propõem a ensinar a refletir. É pressuposto que se respeite as diferentes opiniões. É quase óbvio que o educador sabe da importância de suas palavras, de sua influência sobre os jovens. E que, como tal, deve ponderar sobre o que diz.

É óbvio que não estou falando da deplorável situação da educação no estado de São Paulo, onde os professores estão destituídos de todas as principais garantias constitucionais de liberdade de opinião ou de sua autonomia em sala de aula.

Sabemos que existem muitos problemas na educação brasileira. Principalmente na pública. Mas mesmo que todo brasileiro tenha uma receita infalível pra curar gripe, ninguém em sã consciência discute com médicos ou ridiculariza seus conhecimentos.

Infelizmente, “qualquer um” tem uma receita infalível pra resolver os problemas da educação no Brasil: o retrocesso em relação aos avanços democráticos, a perpetuação do preconceito, a hierarquização das relações na infraestrutura das instituições de ensino etc.

Enquanto ouvirmos as soluções fáceis para os problemas quase insolúveis do Brasil, estaremos fazendo exatamente o que querem que façamos. Enquanto criticarmos as vítimas, alunos e professores, e dedicarmos toda nossa atenção aos sintomas, os problemas vão se perpetuando. Rimos da moça que não aprendeu a calcular, mas não sabemos ler os noticiários. Não lemos as entrelinhas. Não lemos criticamente as piadas infames e racistas. E não nos propomos a refletir sobre temas polêmicos. Acreditamos naqueles que pensam por nós. E mandam emeios anônimos e bem humorados pras pessoas.

Anedota Húngara - parte s/n

Eu, em uma delegacia, fazendo um boletim de ocorrência por ter sido assaltadado, olhava indignado para o policial que me tratava muito mal.
Ele, rindo, questionou minha indignação.
Respondi a ele afirmando que, assim como qualquer policial brasileiro, ele era treinado para lidar com bandidos. Ou seja, pessoas desumanizadas pelas circunstâncias.
Eu, enquanto professor e educador, era habilitado por formação e pela experiência de vida e pela ética a humanizar pessoas e circunstâncias.
Ele não entendeu.

segunda-feira, 15 de fevereiro de 2010

domingo, 7 de fevereiro de 2010

Saída do Bloco Afro Ilú Obá De Min - Carnaval 2010

Saída do Bloco Afro Ilú Obá De Min - Carnaval 2010
Dia 12 de fev de 2010 - início do desfile 21h00
Ilú Obá Canta o Atlântico Negro
Participação especial da Congada de Santa Ifigênia
Concentração a partir das 19h
Participação DJ Evelyn , MC Paula Pretta e Theo Werneck
Viaduto Major Quedinho S/N – Bela Vista – SP
Após o cortejo, te esperamos na Festa da Saída no Teatro Coletivo
Rua da Consolação, 1623
Maiores Informações:
www.iluobademin.com.br
iluobademin@yahoo.com.br

segunda-feira, 25 de janeiro de 2010

Avatar - Pra que serve o cinema, mesmo?

Avatar - Pra que serve o cinema, mesmo?

Esse artigo só se justifica enquanto convite para que todos assistam ao filme que o estimulou.

Uma vez um amigo me disse que um bom filme tem que ter ação, romance e aventura. Fofo, não?
Pois bem: acabo de assistir ao filme Avatar.
Seria apenas mais um filme em que um herói (estadunidense, pra variar) salva o mundo dos vilões malvados que só pensam em dinheiro. Seria.
A inteligência com que o roteiro foi elaborado, as inúmeras alfinetadas nos exércitos invasores estadunidense e israelense, os diálogos impecáveis, repletos de ironia e poesia, enfim, eu poderia listar uma sequência enorme de motivos para enquadrá-lo na categoria de 'bom filme'. Ah, quase esqueci o romance!!! Ai ai.
Mas esses são apenas argumentos técnicos para intelectuais.
Um 'bom quadro' não chega de longe a ser considerado uma obra de arte! Mesmo se for impecável do ponto de vista técnico.
Daí a pergunta: Pra que serve o cinema, mesmo?
Jean Paul Sartre deve ter dito que "toda técnica pressupõe uma metafísica". A meu ver isso deve querer dizer algo como 'sempre que se inventa algo novo, devemos criar uma nova filosofia que explique e justifique'. E depois estalebecer uma ligação entre eles. Nossa! Forcei na didática? Vocês não viram nada.
Em Avatar, estamos diante de uma nova técnica. Finalmente existe um cinema em 3 dimensões. Existe uma metafísica? São Heidegger nos socorra! Tá, existe! Está lá em alto e bom tom: o virtual existe pra complementar ou contrapor o real? São Descartes que se manifeste. Penso, logo ressignifico minha existência. Só por Olorun!!!
Avatares são clones cuja humanidade está intocada. Poético, não?
O cinema nasceu do sonho de uns loucos por ver a imagem em ação. De possibilitar "a todos" a experiência de viver um sonho em estado de vigília. O cinema já nasceu surreal! Sobrevive, e ganhou muitas sobrevidas graças a isso. Além de gerar emprego e renda, é claro. E propagandear a cultura narcisista das polícias do mundo.
Como em qualquer indústria, a produção em série leva ao apuro técnico. Com a repetição vem a perfeição. Aí surge um dilema: a perfeição não é humana. É possível pensarmos em uma indústria da arte? Imaginemos Salvador Dali tendo que cumprir prazos e metas... Forcei na metáfora? Relax!
Se estamos falando de indústria, quem foi a anta que comparou com arte? É um produto industrial? Cumpre prazos e metas? Sim!
Bem, voltando a Avatar, estamos de fato lidando com um produto industrial. Capaz de cumprir todas as metas, e que provavelmente cumpriu prazos. Em termos técnicos, o apuro está muito acima do que estamos habituados. Desde a qualidade das imagens, reais e virtuais, do som, do roteiro, da interpretação, da ação até a concepção orgânica de um mundo novo, hostil e convidativo. Tudo perfeito.
Mas a poesia! Ah, aquele toque mágico do que nasceu inefável!!! Essa é a grande magia do cinema: um "bom" filme deve nos lembrar que somos humanos, que nascemos para viver em grupo e compartilhar. Um "bom" filme deve atingir a perfeição em comunicar o indizível.

Monahyr Yehan Ododô Campos

domingo, 2 de agosto de 2009

Outras possibilidades de amor

Eu acredito em outra possibilidade de amor
É que meu amor num tem nada de nobre
ele carece de sublimação
por que meu amor
precisa olhar nos olhos
abraçar demorado
conversar inutilidades fúteis
acarinhar
eu acredito em outras possibilidades de amor
feito de éter
amor dorsal
mas eu amo de carne e osso

Monahyr Campos

terça-feira, 7 de julho de 2009

Se vc é contra as cotas e não sabe porque, leia isto!

Kabenguele responde a Magnolli
Por: Kabenguele Munanga - 3/7/2009


Manifestação do professor Kabengele Munanga acerca da matéria “Monstros tristonhos” publicada no jornal O Estado de S. Paulo de 14 maio de 2009, de autoria de Demétrio Magnoli.


Em matéria publicada no jornal O Estado de S. Paulo de 14 maio de 2009 (http://arquivoetc. blogspot. com/2009/ 05/demetrio- magnoli-monstros -tristonhos. html), intitulada “Monstros tristonhos”, o geógrafo Demétrio Magnoli critica e acusa agressivamente as Universidades Federais de Santa Maria (UFSM) e de São Carlos (UFSCAR) e também a mim, Kabengele Munanga, Professor do Departamento de Antropologia da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da Universidade de São Paulo.

As duas universidades são criticadas e acusadas por terem, segundo o geógrafo, criado ”tribunais raciais” que rejeitam as matrículas de jovens mestiços que optam pelas cotas raciais. No caso da Universidade Federal de Santa Maria, trata-se apenas de Tatiana de Oliveira, cuja matrícula foi cancelada menos de um mês após o início do curso de Pedagogia.. No caso da Universidade Federal de São Carlos, trata-se do estudante Juan Felipe Gomes. O acusador acrescenta que um quarto dos candidatos aprovados na UFSCAR pelo sistema de cotas raciais neste ano de 2009 teve sua matrícula cancelada pelo “tribunal racial” dessa universidade.

A questão que se põe é saber se além desses estudantes, cujas matrículas foram canceladas, outros alunos mestiços ingressaram em cerca de 70 universidades públicas que aderiram à política de cotas. Se a resposta for afirmativa, os que tiveram sua matrícula cancelada constituem casos raros ou excepcionais que mereceriam a atenção não apenas de Demétrio Magnoli, mas também de todas as pessoas que defendem a justiça e a igualdade de tratamento.

Mas por que esses casos raros, que constituem uma exceção e não a regra, foram “injustiçados” pelas comissões de controle formadas nessas universidades para evitar fraudes, comissões que o sociólogo Demétrio rotula de “tribunais raciais”? Por que só eles? Por que não ocorreu o mesmo com os outros mestiços aprovados? Houve realmente injustiça racial ou erro humano na avaliação da identidade física dessas pessoas que foram simplesmente consideradas brancas e não mestiças apesar de sua autodeclaração? Os erros humanos, quando são detectados, devem ser corrigidos pelos próprios humanos, como o foi no caso dos estudantes gêmeos da UnB. As injustiças, flagrantes ou não, devem ser apuradas e julgadas pela própria justiça que, num estado democrático de direito como o Brasil, deverá prevalecer. Acho que os estudantes Tatiana de Oliveira e Juan Felipe Gomes, e tantos outros que o sociólogo menciona sem entretanto nomeá-los, devem procurar um advogado para defender seus direitos se estes tiverem sido efetivamente violados pelos chamados “tribunais raciais”. Entendo que o geógrafo Demétrio tenha pena deles, considerando a sua sensibilidade humana.

Se realmente houve erro humano na verificação da identidade desses estudantes, a explicação não está na citação intencionalmente deturpada de algumas linhas extraídas de um texto introdutório de três páginas ao livro de Eneida de Almeida dos Reis, intitulado MULATO: negro-não-negro e/ou branco-não-branco, publicado pela Editora Altara, na Coleção Identidades, São Paulo, em 2002.

Veja como é interessante a estratégia de ataque do geógrafo Demétrio Magnoli. Ele escondeu de seus leitores o título do livro de Eneida de Almeida dos Reis, assim como a casa editora e a data de sua publicação para evitar que possíveis interessados pudessem ter acesso à obra para averiguar direta e pessoalmente o fundamento das acusações. De fato, ele não disse absolutamente nada sobre o conteúdo desse livro, e passa a impressão de ter lido apenas vinte linhas do total de três páginas da introdução, a partir das quais constrói seu ensaio e sua acusação. Com sua inteligência genuína, acho que ele poderia ter feito uma pequena síntese desse livro para seus leitores; se ele o tivesse mesmo lido, entenderia que nada inventei sobre a ambivalência genética do mestiço que não estivesse presente no próprio título da obra “Mulato: negro-não-negro e/ou branco-não-branco”. Desde quando a palavra ambivalência é sinônimo de “monstro tristonho”? Estamos assistindo à invenção, pelo geógrafo, de novos verbetes dos dicionários da língua portuguesa?

O livro de Eneida de Almeida dos Reis resultou de uma pesquisa para dissertação de mestrado defendida na PUC de São Paulo sob a orientação de Antonio da Costa Ciampa, Professor do Programa de Estudos Pós-graduados em Psicologia da PUC São Paulo. Ele foi convidado a fazer a apresentação do livro, na qualidade de professor orientador, e eu para escrever a introdução, na qualidade de ex-professor na disciplina “Teorias sobre o racismo e discursos antirracistas”, ministrada no Programa de Pós-Graduação em Antropologia Social da USP. O livro se debruça sobre as peripécias e dificuldades vividas pelos indivíduos mestiços de brancos e negros, pejorativamente chamados mulatos, no processo de construção de sua identidade coletiva e individual, a partir de um estudo de caso clínico. É uma pena que nosso crítico acusador não tenha tido a coragem de apresentar a seus leitores o verdadeiro conteúdo desse livro, resultado de uma meticulosa pesquisa acadêmica, e não da minha fabulação.

Para entender porque essas pessoas mestiças foram consideradas brancas, apesar de terem declarado sua afrodescendência, é preciso voltar ao clássico “Tanto preto quanto branco: estudos de relações raciais”, de Oracy Nogueira (São Paulo: T.A. Queiroz, 1985). Se o geógrafo Demétrio tivesse lido esse livro, acredito que teria entendido porque as pessoas brancas que possuem algumas gotas de sangue africano são consideradas pura e simplesmente negras nos Estados Unidos – apesar de exibirem uma fenotipia branca – e brancas no Brasil. Ensina Nogueira que a classificação racial brasileira é de marca ou de aparência, contrariamente à classificação anglo-saxônica que é de origem e se baseia na “pureza” do sangue. Do ponto de vista norteamericano, todos os brasileiros seriam, de acordo com as pesquisas do geneticista Sergio Danilo Pena, considerados negros ou ameríndios, pois todos possuem, em porcentagens variadas, marcadores genéticos africanos e ameríndios, além de europeus, sem dúvida. Quando essas pessoas fenotipicamente brancas e geneticamente mestiças se consideram ou são consideradas brancas no decorrer de suas vidas e assumem, repentinamente, a identidade afrodescendente para se beneficiar da política das cotas raciais, as suspeitas de fraude podem surgir. Creio que foi o que aconteceu com os alunos cujas matrículas foram canceladas na UFSM e na UFSCAR. Se não houver essa vigilância mínima, seria melhor não implementar a política de cotas raciais, porque qualquer brasileiro pode se declarar afrodescendente, partindo do pressuposto de que a África é o berço da humanidade..

Lembremo-nos de que no início dos debates sobre as cotas colocava-se a dificuldade de definir quem é negro no Brasil por causa da mestiçagem. Falsa dificuldade, porque a própria existência da discriminação racial antinegro é prova de que não é impossível identificá-lo. Senão, o policial de Guarulhos não teria assassinado o jovem dentista identificado como negro pelo cidadão branco assaltado, e os zeladores de todos os prédios do Brasil não teriam facilidade para orientar os visitantes negros a usar os elevadores de serviço. Por sua vez, as raras mulheres negras moradoras dos bairros de classe média não seriam constantemente convidadas pelas mulheres brancas, quando se encontram nos elevadores, para trabalhar como domésticas em suas casas. Existem casos duvidosos, como o dos alunos em questão, que mereceriam uma atenção desdobrada para não se cometer erros humanos, mas não houve dúvidas sobre a identidade da maioria dos estudantes negros e mestiços que ingressaram na universidade através das cotas.

Bem, o geógrafo Demétrio Magnoli leva ao extremo a acusação a mim dirigida quando me considera um dos “ícones do projeto da racialização oficial do Brasil”. Grave acusação! Infelizmente, ele não deu nomes a outros ícones. Nomeou apenas um deles, cuja obra não leu, ou melhor, demonstra não ter lido. Mas por que só o meu nome mencionado? Porque sou o mais fraco, pelo fato de ser brasileiro naturalizado, ou o mais importante, por ter chegado ao ponto mais alto da carreira acadêmica? Isso parece incomodá-lo bastante! Um negro que chegou lá, ao topo da carreira acadêmica, numa das melhores universidades do país, mas nem por isso esse negro deixou de ser solidário, pois milita intelectualmente para que outros negros, índios e brancos pobres tenham as mesmas oportunidades.

De acordo com as conclusões assinaladas no livro de Eneida de Almeida dos Reis, muitos mestiços têm dificuldades para construir sua identidade por causa da ambivalência (Mulato: negro-não-negro e/ou branco-não-branco) , dificuldades que eles teriam superado se tivessem política e ideologicamente assumido uma de suas heranças, ou seja, a sua negritude, que é o ponto nevrálgico de seu sofrimento psicológico. Se o sociólogo acusador tivesse lido este livro e refletido serenamente sobre suas conclusões, ele teria percebido que não alimento nenhum projeto ou plano de ação para suprimir a mestiçagem no Brasil. Isto só pode ser chamado de masturbação ideológica, e não de análise sociológica, nem geográfica! Como seria possível suprimir a mestiçagem, que é um fato fundamental da história da humanidade, desafiando as leis da genética e a vontade dos homens e das mulheres que sempre terão intercursos interraciais? Nem o autor do ensaio sobre as desigualdades das raças humanas, Arthur de Gobineau, chegou a acreditar nessa possibilidade. Se as leis segregacionistas do Sistema Jim Crow no Sul dos Estados Unidos e do Apartheid na África do Sul não conseguiram fazê-lo, os ícones da racialização oficial do Brasil, entre os quais nosso colega me situa, terão esse poder mágico e milagroso que ele lhes atribui?

Entrando na vida privada, gostaria que o sociólogo soubesse que tenho um filho e uma neta mestiços que não são monstros tristonhos como ele pensa, pois são educados para assumir sua negritude e evitar assim os graves problemas psicológicos apontados na obra de Eneida de Almeida Dos Reis, através da indefinida personagem Maria, (ver p.39-100). Como se pode dizer que os mestiços são geneticamente ambivalentes e que política e ideologicamente não podem permanecer nessa ambivalência e ser por isso taxado de charlatão acadêmico? Creio que se trata apenas de uma reflexão que decorre das conclusões do próprio livro e que de per si não constituiria nenhum charlatanismo. Não seria um contra-senso e um grave insulto à USP que esse “charlatão acadêmico” tenha chegado ao topo da carreira acadêmica? E que tenha orientado dezenas de doutores hoje professores nas grandes universidades brasileiras, como a USP, UNICAMP, UNESP, UFMG, UFF, UFRJ, Universidade Federal de Goiás, Universidade Federal de São Luiz do Maranhão, Universidade Estadual de Londrina, Universidade Candido Mendes, PUC de Campinas, etc. Creio que, salvo o geógrafo Demétrio, os que me conhecem através de textos que escrevi, de minhas aulas e de minhas participações nos debates sociais e intelectuais no país e no exterior, não me atribuiriam esse triste retrato.

Disse ainda o geógrafo Demétrio que “do ponto mais alto da carreira universitária, o antropólogo professa a crença do racismo científico, velha de mais de um século, na existência biológica de raças humanas, vestindo-a curiosamente numa linguagem decalcada da ciência genética”. Sinceramente, não entendo como Demétrio conseguiu tirar tanta água das pedras. Das 20 linhas extraídas, de maneira deturpada, de um texto de três páginas de introdução, ele conseguiu dizer coisas horríveis, como se tivesse lido tudo que escrevi durante minha trajetória intelectual sobre o racismo antinegro. A colonização da África, contrariamente às demais colonizações conhecidas na história da humanidade, foi justificada e legitimada por um corpus teórico-cientí fico baseado nas idéias evolucionistas e racialistas produzidas na modernidade ocidental. Teria algum sentido para mim, que milito contra o racismo, professar o racismo científico para lutar contra o racismo à brasileira? Acho que nosso geógrafo quer me transformar num demente que não sou. As pessoas que leram seu texto no jornal O Estado de S. Paulo podem pensar que eu sou esse negro ex-colonizado que professa as mesmas idéias do racismo científico que postulou a inferioridade e a desumanidade dos africanos, incluída a dele mesmo. Como entender que meus alunos de Pós-graduação, a quem ensino há vinte anos “As teorias sobre o racismo e discursos antirracistas”, uma disciplina freqüentada por alunos da USP, de outras universidades e outros estados, têm a coragem de ocupar um semestre inteiro para escutar profissões de fé em favor do racismo científico?

Se o geógrafo Demétrio quer saber mais sobre mim, ingressei na Faculdade em 1964, aos vinte e dois anos de idade. Tive aulas de Antropologia Física com um dos melhores biólogos e geneticistas franceses, Jean Hiernaux. Uma das primeiras coisas que ele me ensinou era que a raça não existe biologicamente. Através de suas aulas, li François Jacob, Nobel de Fisiologia (1965) e um dos primeiros franceses a decretar que a raça pura não existe biologicamente; e J.Ruffie, Albert Jacquard e tantos outros geneticistas antirracistas dessa época. Portanto, sei muito bem, e bem antes de Demétrio que o racismo não pode ter mais sustentação científica com base na noção das raças superiores e inferiores, que não existem biologicamente. Sei muito bem que o conteúdo da raça enquanto construção é social e político. Ou seja, a realidade da raça é social e política porque tivemos na história da humanidade povos e milhões de seres humanos que foram mortos e dominados com justificativa nas pretensas diferenças biológicas. Temos em nosso cotidiano, pessoas discriminadas em diversos setores da vida nacional porque apresentam cor da pele diferente. Nosso sistema educativo é eurocêntrico e nossos livros didáticos são repletos de preconceitos por causa das diferenças. Não sou um novato que ingressou ontem na universidade brasileira. No Brasil, fui introduzido ao pensamento racial nacional por grandes mestres, como João Baptista Borges Pereira, que foi meu orientador no doutoramento, Florestan Fernandes, Octavio Ianni, Oracy Nogueira, entre outros. Não sei onde estava Demétrio nessa época e em que ano ele descobriu que a raça não existe. Acho um exagero querer me dar lição de moral sobre coisas que eu conheço muito antes dele. Isto não quer dizer que ele não possa me ensinar temas pertinentes à geografia, como por exemplo, o que se pode ler em seu livro sobre a África do Sul – “Capitalismo e Apartheid”, publicado pela Editora Contexto, São Paulo, 1998, que oferece algumas informações interessantes sobre a história do sistema do apartheid. Esse livro faz parte da bibliografia recomendada na disciplina ministrada na Graduação, não obstante algumas incorreções históricas nele contidas.

Um dos maiores problemas da nossa sociedade é o racismo, que, desde o fim do século passado, é construído com base em essencializações sócio-culturais e históricas, e não mais necessariamente com base na variante biológica ou na raça. Não se luta contra o racismo apenas com retórica e leis repressivas, não somente com políticas macrossociais ou universalistas, mas também, e, sobretudo, com políticas focadas ou específicas em benefício das vítimas do racismo numa sociedade onde este é ainda vivo. É neste sentido que faço parte do bloco dos intelectuais brancos e negros que defendem as políticas de ação afirmativa e de cotas para o acesso ao ensino superior e universitário. Na cabeça e no pensamento de Demétrio Magnoli, todos os que fazem parte desse bloco querem racializar o Brasil, e isso faz parte de um projeto e de um plano de ação. Que loucura!

Defendemos as cotas em busca da igualdade entre todos os brasileiros, brancos, índios e negros, como medidas corretivas às perdas acumuladas durante gerações e como políticas de inclusão numa sociedade onde as práticas racistas cotidianas presentes no sistema educativo e nas instituições aprofundam cada vez mais a fratura social. Cerca de 70 universidades públicas estaduais e federais que aderiram à política de cotas sem esperar a Lei ainda em tramitação no Senado entenderam a importância e a urgência dessa política. Acontece que essas universidades não são dirigidas por negros, mas por compatriotas brancos que entendem que não se trata do problema do negro, mas sim do problema da sociedade, do seu problema como cidadão brasileiro. Podemos dizer que todos esses brancos no comando das universidades querem também racializar o Brasil, suprimir os mestiços e incentivar os conflitos raciais? Afinal, podemos localizar os linchamentos e massacres raciais nos Estados onde se encontram as sedes das universidades que aderiram às cotas? Tudo não passa de fabulações dos que gostariam de manter o status quo e que inventam argumentos que horrorizam a sociedade. Quem está ganhando com as cotas? Apenas os alunos negros ou a sociedade como um todo? Quem ingressou através das cotas? Apenas os alunos negros e indígenas ou entraram também estudantes brancos da escola pública?

Concluindo, penso que existe um debate na sociedade que envolve pensamentos, filosofias e representações do mundo, ideologias e formações diferentes. Esse pluralismo é socialmente saudável, na medida em que pode contribuir para a conscientização de seus membros sobre seus problemas e auxiliar a quem de direito, o legislador e o executivo, na tomada de decisões esclarecidas. Este debate se resume a duas abordagens dualistas. A primeira compreende todos aqueles que se inscrevem na ótica essencialista, segundo a qual a humanidade é uma natureza ou uma essência e como tal possui uma identidade genérica que faz de todo ser humano um animal racional diferente dos demais animais. Eles afirmam que existe uma natureza comum a todos os seres humanos em virtude da qual todos têm os mesmos direitos, independentemente de suas diferenças de idade, sexo, raça, etnias, cultura, religião, etc. Trata-se de uma defesa clara do universalismo ou do humanismo abstrato, concebido como democrático. Considerando a categoria raça como uma ficção, eles advogam o abandono deste conceito e sua substituição pelos conceitos mais cômodos, como o de etnia. De fato, eles se opõem ao reconhecimento público das diferenças entre brancos e não brancos. Aqui temos um antirracismo de igualdade que defende os argumentos opostos ao antirracismo de diferença. As melhores políticas públicas, capazes de resolver as mazelas e as desigualdades da sociedade, deveriam ser somente macro-sociais ou universalistas. Qualquer proposta de ação afirmativa vinda do Estado que introduza as diferenças para lutar contra as desigualdades, é considerada, nessa abordagem, como um reconhecimento oficial das raças e, conseqüentemente, como uma racialização do Brasil, cuja característica dominante é a mestiçagem. Ou, em outras palavras, as políticas de reconhecimento das diferenças poderão incentivar os conflitos raciais que, segundo dizem, nunca existiram. Assim sendo, a política de cotas é uma ameaça à mistura racial, ao ideal da paz consolidada pelo mito de democracia racial, etc. Eu pergunto se alguém pode se tornar racista pelo simples fato de assumir sua branquitude, amarelitude ou negritude? Como se identifica então o geógrafo Demétrio: branco, negro, mestiço ou Demétrio indefinido? Pelo que me consta, ele se identifica como branco, mas não aceita que os negros e seus descendentes mestiços se identifiquem como tais e lutem por seus direitos num país onde são as grandes vítimas do racismo. A menos que ele negue a existência das práticas racistas no cotidiano brasileiro, e as diferenças de cor, sexo, classe e religiões que exigiriam políticas diferenciadas.

A segunda abordagem reúne todos aqueles que se inscrevem na postura nominalista ou construcionista, ou seja, os que se contrapõem ao humanismo abstrato e ao universalismo, rejeitando uma única visão do mundo em que não se integram as diferenças. Eles entendem o racismo como produção do imaginário destinado a funcionar como uma realidade a partir de uma dupla visão do outro diferente, isto é, do seu corpo mistificado e de sua cultura também mistificada. O outro existe primeiramente por seu corpo antes de se tornar uma realidade social. Neste sentido, se a raça não existe biologicamente, histórica e socialmente ela é dada, pois no passado e no presente ela produz e produziu vítimas. Apesar do racismo não ter mais fundamento científico, tal como no século XIX, e não se amparar hoje em nenhuma legitimidade racional, essa realidade social da raça que continua a passar pelos corpos das pessoas não pode ser ignorada.

Grosso modo, eis as duas abordagens essenciais que dividem intelectuais, estudiosos, midiáticos, ativistas e políticos, não apenas no Brasil, mas no mundo todo. Ambas produzem lógicas e argumentos inteligíveis e coerentes, numa visão que eu considero maniqueísta. Poderão as duas abordagens se cruzar em algum ponto em vez de se manter indefinidamente paralelas? Essa posição maniqueísta reflete a própria estrutura opressora do racismo, na medida em que os cidadãos se sentem forçados a escolher a todo momento entre a negação e a afirmação da diferença. A melhor abordagem seria aquela que combina a aceitação da identidade humana genérica com a aceitação da identidade da diferença. Para ser um cidadão do mundo, é preciso ser, antes de mais nada, um cidadão de algum lugar, observou Milton Santos num de seus textos. A cegueira para com a cor é uma estratégia falha para se lidar com a luta antirracista, pois não permite a autodefinição dos oprimidos e institui os valores do grupo dominante e, conseqüentemente, ignora a realidade da discriminação cotidiana. A estratégia que obriga a tornar as diferenças salientes em todas as circunstâncias obriga a negar as semelhanças e impõe expectativas restringentes.

Se a questão fundamental é como combinar a semelhança com a diferença para podermos viver harmoniosamente, sendo iguais e diferentes, por que não podemos também combinar as políticas universalistas com as políticas diferencialistas? Diante do abismo em matéria de educação superior, entre brancos e negros, brancos e índios, e levando-se em conta outros indicadores socioeconômicos provenientes dos estudos estatísticos do IBGE e do IPEA, os demais índices do Desenvolvimento Humano provenientes dos estudos do PNUD, as políticas de ação afirmativa se impõem com urgência, sem que se abra mão das políticas macrossociais.

Não conheço nenhum defensor das cotas que se oponha à melhoria do ensino público. Pelo contrário, os que criticam as cotas e as políticas diferencialistas se opõem categoricamente a qualquer política de diferença por considerá-las a favor da racialização do Brasil. As leis para a regularização dos territórios e das terras das comunidades quilombolas, de acordo com o artigo 68 da Constituição, as leis 10639/03 e 11645/08 que tornam obrigatório o ensino da história da África, do negro no Brasil e dos povos indígenas; as políticas de saúde para doenças específicas da população negra como a anemia falciforme, etc., tudo isso é considerado como racialização do Brasil, e virou motivo de piada.

Convido o geógrafo Demétrio Magnoli a ler o que escrevi sobre o negro no Brasil antes de se lançar desesperadamente em críticas insensatas e graves acusações. Se porventura ele identificar algum traço de defesa do racismo científico em meus textos, se encontrar algum projeto ou plano de ação para suprimir os mestiços e racializar o Brasil, já que ele me acusa de ícone desse projeto, ele poderia me processar na justiça brasileira, em vez de inventar fábulas que não condizem com minha tradicionalmente pública e costumeira postura.


"Enquanto os leões não tiverem seus contadores de história, as histórias de caçada glorificarão os feitos dos caçadores". (provérbio iorubano)
www.orunmila.org.br


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"A ancestralidade é a nossa via de identidade histórica. Sem ela não sabemos o que somos e nunca saberemos o que queremos ser".