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domingo, 13 de fevereiro de 2011

Agora o inimigo não é nada mais que variações sobre o mesmo tema

Agora o inimigo não é nada mais que variações sobre o mesmo tema

Tropa de Elite II - Agora o inimigo não é nada mais que variações sobre o mesmo tema. A meu ver, esse seria um excelente subtítulo para o longa que acabo de assistir.
Perplexo começo a ver diante de mim um desfile de lugares comuns absolutamente obsoletos com aspecto de novidade. E olha que não sou de assitir a filmes hollywoodianos.
Só que o roteiro não tem nada de original: quantos filmens estadunidenses exploram a relação sempre produtiva entre a bandidagem e os políticos corruptos? Com a diferença que, esses filmes endeusam um personagem principal que mata todo mundo pessoalmente e nunca se questiona, enquanto que, no caso de Tropa de Elite, o herói é um pouco mais complexo.

Alguém diria que se trata de um filme ruim? Eu não! É um excelente filme! Ótimo elenco e ótima trama. Cinematograficamente uma realização memorável. Trilha e sonoplastia impécáveis. Edição e fotografia idem. Quanto ao argumento (como critério de avaliação), diria que o roteiro fala de coronéis da polícia militar e, ninguém chega a ser coronel se for burro. O filme perde um pouco em verossimilhança nesse aspecto. Mas isso também não é relevante.

O que me deixou estupefato é a manutenção da defesa aos argumentos mais fascistas das ações mais fascistas das polícias mais fascistas. Critica-se acertadamente a polícia corrupta. A polícia assassina e fascista continua podendo absolutamente tudo, desde que seja 'honesta'. Chega a ser nojento.

O inimigo do personagem Nascimento é o sistema? Qual sistema? Não lembro de ter visto durante todo o longa-metragem uma palavra que seja acerca do sistema que transforma defensores da lei em assassinos e torturadores. Em qual trecho do filme ele questionou o sistema que corrompe os policiais ou a tia que aluga sua sala para milicianos? Ou será que eles já nasceram ruins?

Tive o enorme prazer de assistir novamente, ontem ao filme Avatar. Esse sim, questiona o sistema o tempo todo. Envolvido em uma aura de poesia como não visto há anos, no cinema mundial, principalmente, no cinema destinado a grandes bilheterias. E talvez por isso, tenha sido apontado como "previsível".

O roteiro de Tropa de Elite II - Agora o inimigo é outro - pode não ser previsível, mas suas falas são! E seus objetivos também. Adular os críticos que taxaram apropriadamente a primeira parte da trama de fascista. A meu ver, não conseguiu. Essa segunda parte é tão fascista quanto a primeira, afinal, mudaram o inimigo, mas mantiveram os métodos e o ponto de vista.

A impressão que fica é que o diretor "José Padilha" crê abertamente que não é o responsável pelas palavras que saem da boca de seus personagens. Ou tenta passar essa idéia.

Esse filme preparou terreno para as invasões nos 'morros' cariocas. Alicerçou a base de apoio popular para que as polícias pudessem praticar quaisquer perversidades em nome da manutenção da ORDEM e da PAZ. Intencionalmente, ou não, mais uma vez a vida "imita" a arte.

Vou finalizar com um exemplo: No começo do filme ouve-se a famosíssima frase "Bandido bom é bandido morto" antecedida da afirmação de que essa representa a opinião do povo. Quem quer que tenha convivido com policiais em qualquer parte do Brasil, sabe que esse é o lema das nossas polícias!!! Nenhum policial brasileiro acorda de manhã e vai trabalhar com a intenção de prender bandido. Eles saem para matar. (Já vemos aí uma inversão de valores. Mas piora). O povo mostrado, defendendo essa opinião, é, nada mais nada menos do que um bando de grã-finos, em um restaurante de luxo, onde almoçam políticos e empresários. Essa parcela da população realmente 'pensa assim'. Só não creio que alguém possa considerá-la povo.

Monahyr Yehan Ododô Campos

14 comentários:

  1. Não vi Tropa de Elite II, e sinceramente não tenho votnade, exatamente por ter esta impressão que vc confirmou no seu excelente texto...
    Ah! Amei a frase de abertura do BLOG

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  2. É um filme que merece ser visto.
    Até pra gente conhecer melhor aqueles que devemos combater...
    Obrigado pela colaboração.

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  3. Gostei muito do texto! Assim como a Dri, não vi Tropa de Elite, nem o I nem o II... Lembro na época do I, as pessoas fazendo piadinhas com as frases do filme, transformando em piada assuntos tão sérios e tristes.... E assim como vc diz, acabou legitimando a violência policial... sua frase "A polícia assassina e fascista continua podendo absolutamente tudo, desde que seja 'honesta'", é um tapa na cara, de tão verdadeiro.... :(
    E Avatar...... ai ai, é realmente uma crítica maravilhosamente poética.... simplesmente genial.... este sim!

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  4. Obrigado Roberta. É sempre reconfortante saber que não estamos sozinhos bancando 'a mulher que vê', nesse nosso imenso ensaio sobre a cegueira!

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  5. Querido,
    N vi o filme! Portanto seria incoerente c vc,com o diretor, e comigo mesmo, se desse alguma opinião.
    Estou em um momento tão sensivel da minha vida, que por enquanto quero assistir somente filmes europeus, que falem das contradições doS sentimentos humano...
    Volto a cena em um momento mais oportuno.
    bj, bj

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  6. Infelizmente não posso opinar sobre o artigo, porque não vi os filmes, mas seu texto trás uma pontinha de curiosidade e quem sabe agora eu agora tenha um motivo para assistir. Confesso que desde de Cidade de Deus, fiquei meio assustada com a banalização da violência de filmes como esse, parece que ao tentar tocar nos problemas sociais tendem a banalizar os fatos, apesar do “ótimo elenco” e porque não falar também da “ótima trama”, talvez pequem não apenas pela falta de argumento, mas pelo excesso, pela tinta forte impressa na realidade, no fim falta a crítica, algo que nos coloque em choque, que não nos permita reforçar os estereótipos da marginalidade. Beijos

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  7. Uma coisa que acho séria nisso ai tudo Monah: A opinião e algumas impressões que permeiam esses filmes TDE I e II, é um fato cara... Vivo num bairro, numa favela semi-concretada, onde todos condenam, criticam, desdenham o crime organizado, mas compram maconha antes de dar um "rolê". Ai a polícia entra aqui e mata meio mundo, ai eles acham bonito. Ai os "irmãozinhos" vão lá e matam os "Gambé", ai eles gostam disso também. Meu drama meu irmão, é que nós gostamos de violência, gostamos de ver presunto esticado na calçada, seja da polícia, seja dos nossos amigos do ginásio que vendem panduringa. A maioria assiste ao filme por que sabe que vai rolar uma carnificina, ninguem dá a mínima pra qualquer outra coisa que possa se observar ou concluir sobre a trama, tem sangue? é bom meu irmão!
    Isso é que acho o Kaos, sem "K"! O povo tá embebido em sangue, e é no seu próprio!
    Me estendi, foi mal, adorei a publicação, saudações barroquinas!
    Jaime Paes

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  8. Mô, eu li.
    Gostei, concordei por ver você no texto.

    Mas é complicado... Quem não gosta de matar não vira policial. Quem tem medo da morte não vira traficante (???).
    Acho que as crianças continuarão brincando de polícia e ladrão. Mas agora haverá mais brasileirinhos querendo ser polícia e pedir para sair.
    Não apoio.Nada.Ninguém.

    Acho que a enxurrada de filmes mostrando a margem da sociedade no centro pede uma Tropa de Elite. É natural...
    A arte tem que representar a todos.

    beijão

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  9. Esse fatalismo é que eu não consigo ver...
    Nos EUA as crianças também brincam de polícia e bandido... mas lá, assassinos latentes vão para o exército e não para as ruas. Por isso, frequentemente vemos cenas de perseguições espetaculares: os bandidos sabem que não serão covardemente assassinados.
    Concordo quando você diz que a aarte tem que representar a todos. Mas prefiro os artistas que se propõem a dar voz aos que não têm voz. E os meus adversários ideológicos têm toda a mídia do mundo, não precisariam de um longametragem pra se pronunciar...

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  10. Bom, tb tem crianças que matam nas escolas americanas... Gostei do comentário do Jaime: sangue do povo= caos, e isso vejo no filme como cena barroca, muito tudo: raiva, sangue, silêncio, corpos, choro, sensação de impotência, vermelho, tudo muuuito... Ai lembrei da Adriana Varejão, uma artista que usa carne/imagens e azulejos em suas obras, lindo... Olha, eu vi, como vc sabe, o 1, o 2, acho que vale a pena assistir pra poder pensar sobre relações tráfico-violência-policia-política, enfim, acho que ele é adaptado a uma realidade brasileira e que temos, eu pelo menos, pouca noção, contato, enfim, só vemos pelas manchetes... Da minha parte, enqto num for legalizada, num compro maconha, só alimenta o tráfico. É um grão de areia, mas cd um com sua consciência... Que mais? Eu gosto muito da vista aérea do planalto no fim do filme, o Wagner Moura é ótemo nesse papel de puliça, aqueles olhos morteiros, vida sem grandes expectativas, sem grandes emoções, apesar de tanta ação! Tb gostei de pensar sobre a retro-alimentação desse sistema e como, a partir de um samba no morro, o cara vai se promovendo, de puliça a chefe de sei lá o que no morro... Tá tudo muito misturado, lá em cima, cá embaixo, uns querem viver de bem com a vida, outros de bem com seu umbigo, outros de bem com o bolso, outros muitos se alienando da realidade e se drogando e alimentando tuuudo isso, e haja pó, erva, dinheiro e aviõezinhos pra tudo isso...
    E sobre Em qual trecho do filme ele questionou o sistema que corrompe os policiais ou a tia que aluga sua sala para milicianos? Ou será que eles já nasceram ruins?` Acho que não precisou, o que corrompe é a sobrevivência, a malandragem, as nossas escolhas a cada passo... Bom, assisti faz tempo, as idéias não estão assim fervilhaaando, mas o que vale é a intenção! bjbj Paula

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  11. Obrigado, Paula.
    Super poética, você.
    Seu comentário só acrescenta.
    Beijo

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  12. Nos filmes Tropa de Elite I e II, o capitão Nascimento é um policial extremamente violênto e um tanto quanto sádico em algumas cenas. No primeiro filme da série há um conflito psicológico no personagem central no sentido que ele considera incompatíveis o seu comportamento violênto com a conduta que ele deve adotar dentro da sua casa. Esse fato se torna mais claro para ele quando no momento do nascimento do seu filho ele se encontra combatendo bandidos no morro.
    Apesar desse fato, Nascimento concorda com a violência policial como forma de acabar com a criminalidade, que é o seu principal objetivo como policial. Esse fato o faz ser totalmente contrário a corrupção nas forças policiais.
    Sem dúvida alguma, o personagem central da trama tem grande fé na violência policial como forma de combater a criminalidade.
    Já o personagem Matias apresenta conflitos internos com a visão que os seus colegas da faculdade de direito tem da polícia e o fato dele ser um policial.
    É interessante o método narrativo do primeiro tropa de elite, no qual quem narra a trama é o Capitão Nascimento, que não vê com bons olhos o fato de Mathias não denunciar os seus colegas que fumam maconha na faculdade de direito.
    O grande fato que transforma a personalidade de Mathias é o assassinato do personagem Neto, que era seu parceiro como policial. A partir desse momento, Mathias passa a ser movido pelo sentimento de vingança da morte do seu parceiro.
    Quando tal aspiração se concretiza o filme acaba e no segundo filme descobrimos que Mathias virou o Capitão do BOPE e que Nascimento virou chefe de operações policiais.
    No fim do primeiro filme, temos a cena de um bandido caído no chão sendo morto com um tiro na cara, em uma cruel execução feita a mando do Capitão Nascimento como uma prova para ele saber se Mathias estava apto para ser capitão do BOPE.
    Dessa forma, o filme nos mostra que o BOPE nada mais é que um grupo de extermínio oficial, que adota uma política de ação segundo a qual há uma guerra contra os traficantes, coisa que legitimaria uma série de abusos contra a população do morro e a prática da tortura contra os bandidos e seus familiares.
    Imaginem, para ser capitão do BOPE é preciso ser uma assassino a sangue frio!
    Não vejo críticas do filme em relação a esse fato.
    De qualquer forma, há uma possível crítica no antagonismo entre ser comandante do BOPE e pai de família presente nos dois filmes.
    Fora isso, não deixa de haver uma crítica contundente contra a corrupção no filme, principalmente no caso do comportamento adotado pelo deputado Diogo Fraga, que se torna impotente diante da corrupção dos políticos brasileiros.
    Apesar disso, concordo plenamente que esse filme foi usado para legitimar a ocupação dos morros pela polícia e o exército.

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  13. Ps: São realmente repulsivos os métodos adotados pelo BOPE!

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    1. Não podemos combater a violência por meio de mais violência ainda. É como querer apagar o fogo com a gasolina.

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